quarta-feira, 26 de agosto de 2009

EMPREENDIMENTO SOCIAL: CONSTRUÇÃO DE ALICERCES PARA A FORMAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES - MUTÁ, BAHIA

EMPREENDIMENTO SOCIAL: CONSTRUÇÃO DE ALICERCES PARA A FORMAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES - MUTÁ, BAHIA


Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi
Lilia Tavares dos Santos
Evelim Sousa da Silva
Lindinalva Ramos


RESUMO: Este artigo tem por propósito discutir ações realizadas junto à Associação dos Moradores do Mutá – AMMU, promovidas pelo Grupo de Pesquisa em Gestão Ambiental e Desenvolvimento de Empreendimentos Sociais – GamDes, da Escola de Administração da UCSal, com o objetivo de incentivar a comunidade local a adotar medidas que possam promover o seu progresso, conciliando transferência de conhecimento e desenvolvimento local. Coloca em evidência conceitos relativos ao capital social, ao empreendedorismo social, ao desenvolvimento endógeno, e à gestão organizacional. Um novo caminho para superar as dificuldades inerentes às pequenas comunidades no estado da Bahia é a obtenção de conhecimento dos conceitos ligados à visão social e empresarial dos negócios relacionados às organizações sociais civis de interesse público. O presente trabalho pode contribuir para o processo de enriquecimento da interpretação empírica e da realidade social no que tange ao gerenciamento de empreendimentos comunitários, e também para a formação de uma proposta alternativa para desenvolvê-los.

Palavras-Chave: Empreendedorismo Social; Capital Social; Gestão Organizacional.


INTRODUÇÃO

A enorme desigualdade no Brasil do século XXI, originária do período colonial, possui especificidades modernas, fruto de contextos multifacetados, que englobam a quantidade e qualidade dos recursos e informações que cada grupo social tem acesso.
Na análise da desigualdade social no Brasil deve-se levar em conta não apenas o desequilíbrio da infra-estrutura e dos recursos técnico-financeiros disponíveis em cada grupo social, mas também a presença ou ausência de redes interativas propiciadoras de capital social no seu interior.
As comunidades localizadas no interior da Bahia, principalmente aquelas de pequeno porte, geralmente têm grandes dificuldades de acesso a recursos destinados à infra-estrutura urbana ou desenvolvimento econômico, seja pela ausência de poder político, seja pela de pessoal técnico qualificado. Assim, permanecem em desvantagem, criando grande dependência financeira em relação aos governos estadual e federal. Investimentos e prestação de serviços públicos de maneira adequada ficam limitados, e reflexos negativos no desenvolvimento sócio-econômico da região são sentidos. A conseqüência é o empobrecimento, e a ausência de alternativas econômicas e de geração de renda para a comunidade.
A teoria do desenvolvimento endógeno focaliza a questão regional, apresentando contribuições para a problemática das desigualdades entre regiões e instrumentos de políticas para sua correção. O desenvolvimento endógeno tem suas origens na década de 1970, quando as propostas de desenvolvimento da base para o topo emergiram com maior notoriedade, e vem contribuindo para o estudo do “crescimento desequilibrado”, com a apresentação de novos enfoques (SOUZA FILHO, 2008). Enfoques teóricos do capital social, da organização social, do empreendedorismo social, assim como o do empoderamento serão tratados neste trabalho, visando descrever e analisar as ações desenvolvidas junto a uma pequena comunidade composta na sua maioria por marisqueiras e pescadores no interior do Recôncavo Baiano.
A confiança, junto a estes conceitos, é valor preponderante na construção de qualquer empreendimento. Porém, ferramentas administrativas, como as atividades de gestão interna de negócios, sejam sociais, sejam empresariais, é fator imprescindível. O conhecimento destas ferramentas de gerenciamento organizacional garante melhor uso de seus recursos, traduzidos em melhores indicadores de qualidade e produtividade.
Este trabalho objetiva demonstrar as ações desenvolvidas conjuntamente entre alunos de administração de empresas, ligados ao grupo de pesquisa acadêmica, e uma associação de moradores de um pequeno distrito localizado na Baía de Todos os Santos. As atividades empreendidas e suas análises podem contribuir para o processo de enriquecimento da interpretação empírica e da realidade social no que tange ao gerenciamento de empreendimentos comunitários, e também para a formação de uma proposta alternativa para desenvolvê-los.


ALICERCES TEÓRICOS: CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS LIGADOS AOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS

A gestão interna é reconhecidamente uma atividade essencial para o sucesso de um negócio. O gestor ou o empreendedor social deve ter noção de como abrir o seu negócio, quais passos devem ser dados para apresentar o seu produto, quais hábitos e costumes que formam a cultura na qual está inserido, saber planejar, executar e controlar os seus projetos de maneira flexível, aproveitando oportunidades ou evitando ameaças que não possa controlar.
Ramos (1996) afirma que para um gestor desempenhar com sucesso o seu papel são necessários dois fatores básicos: a) o conhecimento da verdadeira dimensão de seu trabalho; e, b) o entendimento de conceitos e ferramentas que o ajudem no desempenho de suas atividades. Portanto, os empreendimentos sociais necessitam não só de uma adequada visão e compreensão do negócio pelos seus interessados, que também devem deter algum conhecimento sobre procedimentos, tecnicismos, tecnologias e ferramentas de trabalho.
O empreendedorismo tem a capacidade de promover transformações nas empresas e nos indivíduos. Observa-se, no entanto, que ao longo dos anos esta técnica se encontra influenciada pelas mudanças conjunturais ocorridas no seu entorno, sendo condicionada pelo contexto histórico e social no qual está inserida, tornando-se passível de novas significações.
Schumpeter (1982) introduz o conceito de empreendedor inovador, que é o agente capaz de realizar com eficiência novas combinações, mobilizar o crédito bancário e empreender novos negócios, buscando sempre oportunidades, identificando-as e aplicando-as eficientemente no processo produtivo. Porém, estas abordagens eram aplicadas de forma isolada, desconsiderando a influência do entorno da estrutura social local ou regional. Drucker (1987) reconstrói o conceito de empreendedor elaborado por Say, onde resume o papel do empreendedor como distribuidor dos recursos econômicos de um setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento, possibilitando, desse modo, maior eficiência e eficácia à economia, alcançando o equilíbrio financeiro e a maximização dos lucros e vendas.
As transformações no ambiente econômico e social das últimas décadas, com a elevação do desemprego, presença maciça de elementos como comunicação em massa, globalização, competitividade, maior organização da sociedade civil, urgência por auto-sustentabilidade econômica e produtiva para as populações excluídas e marginalizadas da sociedade, evidenciam a necessidade de surgimento de uma nova figura de empreendedor, em detrimento da perspectiva econômica, individualista e comportamental difundida. É necessário que se reconheça a existência de um ambiente favorável à dinâmica do negócio a ser empreendido, alicerçado no acúmulo e aumento de valores relacionais que compõem o ativo intangível da comunidade, como capital social, confiança e cooperação.
Na abordagem conceitual sobre capital social a referência aos autores pioneiros na elaboração e difusão deste conceito é imprescindível. Para Bordieu (1980), capital social é o conjunto de recursos ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de inter-conhecimento, ou seja, à vinculação a um conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns, mas também são unidos por ligações permanentes e úteis. Assim, o capital social está associado a um estoque de recursos que serve de base para ações coletivas em prol de objetivos comuns, onde o volume de capital social que um agente possui depende da extensão de redes de relações que ele pode mobilizar.
Coleman (1990), afirma que o capital social não se encontra tão somente nos indivíduos, mas nas relações entre eles, aumentando os recursos disponíveis. O capital social enfatiza o fato de que formas e relações não-monetárias podem ser importantes fontes de poder e influência, e pode assegurar o desenvolvimento físico, econômico e humano com condições de atrair recursos para o bem-estar coletivo. Este capital quanto mais usado, maior se apresenta.
Fukuyana (1996) aborda valores como confiança e cooperação, manifestadas nas ações do grupo. Para o autor, o capital social refere-se à capacidade das pessoas trabalharem em conjunto para o alcance de causas comuns. A capacidade de associar-se depende do grau de partilha das normas e valores entre indivíduos, e da capacidade destes de subordinarem seus interesses individuais aos coletivos.
Alicerçado nas idéias de Fukuyana, Putnam (1993) atribui à confiança como elemento fundamental para a compreensão do capital social, considerando que seus estoques são compostos por valores e normas que tendem a ser cumulativos e a reforçar-se mutuamente, colaborando, assim, para a construção de uma comunidade cívica baseada em elevados níveis de confiança e cooperação. O autor evidencia que os níveis de capital social determinam o seu desenvolvimento social, influenciando na eficiência da sociedade. Dessa forma, pode-se afirmar a existência de uma relação intrínseca entre prosperidade econômica, social e política de uma sociedade no nível de associativismo, confiança e cooperação.
Jará (2000) considera que a confiança pode ser compreendida como uma relação entre pessoas ou grupos nas quais as partes compartilham suas capacidades e esforços, passando a se tratar como iguais. O autor corrobora com a idéia de que o capital social depende do grau de confiança e cooperação entre os participantes de uma comunidade.
Casaroto Filho (2001) conclui que não há uniformidade nos conceitos de capital social, o que há em comum é a reflexão em torno das novas ações estratégicas para o desenvolvimento local com foco no crescimento “endógeno”, capaz de criar condições locais para o seu desenvolvimento. Estas condições são provocadas por um esforço, ou onde as pessoas, as organizações, as comunidades tomam controle de seus próprios assuntos, de sua própria vida, de seu destino, tomam consciência de sua habilidade competência para produzir, criar e gerir.
Apesar de diferenciações conceituais, as abordagens estudadas coincidem na idéia de que a permanência do capital social depende da atividade contínua das relações de conhecimento entre indivíduos.
Em resposta às transformações ocorridas no ambiente econômico brasileiro das últimas décadas, cujo desenvolvimento local apresenta-se como alternativa possível para a superação das desigualdades regionais e mazelas sociais, devem-se considerar as peculiaridades regionais e culturais de cada região como forma de resgate e reafirmação, aliada à sua capacidade produtiva potencial, permitindo a comunidade alcançar sua sustentabilidade econômica. Esse novo modelo de desenvolvimento exige a utilização da estratégia de endogenização, baseada em atores locais para alimentar um ambiente favorável à sua dinâmica. Segundo Amaral Filho (1995) o desenvolvimento endógeno é um processo de crescimento econômico que implica em uma contínua ampliação da capacidade de geração a agregação de valor sobre a produção e a capacidade de absorção da região.
A estratégia de endogenização para o desenvolvimento local deve estar alicerçada no acúmulo e aumento de valores relacionais, que compõem o ativo intangível da comunidade, fruto da constante troca de experiências e conhecimento entre os atores locais, como: capital social, confiança e cooperação. Assim, durante o processo de desenvolvimento ocorre um fortalecimento dos laços entre os atores, que permitirá uma extensão e a diversificação de suas redes sociais favorecendo ao adensamento dos laços internos e externos.


APOIO À CONSTRUÇÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO SOCIAL EM UM PEQUENO DISTRITO NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

Percebendo a oportunidade de trabalhar em um projeto promissor, o Grupo de Estudos da Escola de Administração da UCSal intitulado “Gestão Ambiental e Desenvolvimento de Empreendimentos Sociais - GamDes”, articulou uma parceria com moradores do distrito de Mutá, Jaguaribe visando difundir os conhecimentos que vem produzindo, de forma a contribuir com a transferência dos conceitos estudados para a implantação de uma associação de moradores e construção de capital social inserido em um contexto organizacional não tradicional, onde a base seria a participação organizada da comunidade.
No mês de outubro de 2007 iniciaram-se os trabalhos para legalização da Associação dos Moradores do Mutá - AMMU. Em um primeiro encontro, promovido pelo GamDes, a capacidade de buscar respostas para possíveis desafios que o grupo de moradores enfrentava estava nos debates e análises sobre o ambiente em que estavam inseridos, e o elemento de partida foi o entendimento sobre a cultura local, respeitando-a e estimulando os participantes a analisar a economia da região, e a descobrir o seu papel dentro do desenvolvimento do seu entorno. Ficou combinado que os futuros integrantes da Associação, que participavam das atividades, além de discutir soluções para os problemas locais iriam buscar tecnologias sociais apropriadas à preservação da saúde e geração de renda.
Em reunião plenária entre representantes do GamDes e moradores do distrito foram estabelecidas duas etapas de procedimentos, tais como:
1 - Etapa Legal: caminho para a legalização e implantação de uma Organização Social Civil de Interesse Público , ou seja, metas foram estabelecidas para a elaboração do estatuto, o registro da organização em cartório, e a inscrição junto aos órgãos estaduais e municipais;
2 - Etapa de Planejamento e Organização: a) criação de uma logomarca; b) elaboração de um projeto – o Leite Amigo, que projetasse a organização e que permitisse a construção de valores, como confiança, trabalho em equipe, além da geração de renda, fortalecendo a organização e seus laços internos; c) busca por cursos e oficinas que pudessem contribuir para a construção de propostas que ajudassem o desenvolvimento das ações previstas pela organização; d) elaboração do planejamento estratégico da AMMU, com a finalidade de buscar respostas para possíveis desafios que pudesse enfrentar; e) aplicação de uma pesquisa de campo junto às associadas beneficiadas pelo projeto Leite Amigo, visando aferir o nível de comprometimento e confiança angariado.


RESULTADOS

Em janeiro de 2008 foi dada a partida para a legalização da AMMU. Os futuros dirigentes, assessorados pelo GamDes e por um advogado, elaboraram o estatuto que contemplava todas as normas de administração que iriam reger a associação, e o registraram em cartório. Também foi necessária a inscrição da entidade junto à Prefeitura de Jaguaripe e ao governo do estado.
Com a legalização promovida, em fevereiro de 2008, foram criadas as logomarcas da AMMU e do Projeto Leite Amigo (V. Fig 1.0 e 2.0). Estas duas ações foram planejadas com a finalidade de criar um envolvimento na comunidade, projetando valores como união e trabalho em equipe, e visando angariar “confiança”, tão necessária para a consecução dos objetivos deste tipo de empreendimento.




Figuras 1.0 e 2.0 – Logomarcas da AMMU e do Projeto Leite Amigo

O Projeto Leite Amigo foi elaborado conjuntamente, entre a equipe do GamDes e os dirigentes da AMMU. O objetivo deste projeto é fornecer durante um ano (de fevereiro de 2008 a fevereiro de 2009) uma cesta de alimentação mínima para crianças de 0 a 2 anos. Estas crianças devem morar no distrito do Mutá, Jaguaripe, e seus pais não terem, comprovadamente, renda suficiente para proporcionar os nutrientes mínimos para seu crescimento saudável. Um outro propósito do projeto seria o entrosamento permanente entre as famílias beneficiadas e a AMMU. Durante o acompanhamento e controle deste projeto, outras ações poderão ser implementadas, colaborando para a edificação de valores como parceria e confiança.
Em abril de 2008 foi promovido pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco o Seminário intitulado Gênero e Captação de Recursos para Geração de Renda. Alunos do GamDes e dirigentes da AMMU participaram deste evento com o propósito de adquirir novos conhecimentos que fortalecessem trabalhos futuros. Em maio, um outro encontro foi oferecido pelo Banco do Nordeste, uma palestra sobre captação de recursos para pequenos empreendimentos. Participaram desta exposição a presidente e a secretária da Associação e um aluno do GamDes. A partir destas apresentações, surgiu a necessidade da elaboração do Planejamento Estratégico da AMMU.
Em maio de 2008, um encontro foi agendado na sede da AMMU entre os dirigentes e os alunos do GamDes para elaboraram o planejamento estratégico. Algumas palestras sobre cooperativismo e ferramentas de gestão foram apresentadas pelos alunos. As exposições ocorreram de maneira informal, para estabelecer uma integração entre os grupos e quebrar possíveis barreiras existentes entre o saber acadêmico e o saber popular. Foi utilizada uma linguagem coloquial, permitindo maior participação dos envolvidos. Assim, muitos se sentiram a vontade para expor seus pontos de vista, desejos, sonhos e planos futuros para si e para a comunidade. Depois, o debate sobre o planejamento estratégico aconteceu, e o resultado está demonstrado no Quadro 1.0.

QUADRO 1.0 – Resultado do Planejamento Estratégico da AMMU
VALORES
Ética; Solidariedade; Transparência; Compromisso; Responsabilidade; Confiança; Honestidade e União.
VISÃO
Ser o principal parceiro da comunidade nos próximos três anos. Ser referência de associação sustentável, acessível e comprometida com a sociedade, tendo como foco a responsabilidade social. Atingir o reconhecimento e credibilidade da comunidade local, promovendo e estimulando a ética, a cidadania e a solidariedade, através de ações junto às áreas da educação, da cultura e do meio ambiente.
MISSÃO
Ser uma entidade que promove consciência ambiental, conservação e preservação dos recursos naturais e geração de renda, buscando a excelência na qualidade de vida do morador do distrito do Mutá, por meio do estímulo à cidadania e responsabilidade social.
PONTOS FORTES: Projeto Leite Amigo; sede; legalização; assessoria da UCSal; financiamento para o Projeto Leite Amigo; contatos para elaboração de outros projetos junto ao governo estadual.
PONTOS FRACOS: Ausência de recursos financeiros e de infra-estrutura; falta de assiduidade ou pontualidade da diretoria nas reuniões; desconfiança entre os membros da diretoria; desligamento de alguns diretores da AMMU; falta de comunicação entre a diretoria.
OPORTUNIDADES: Ambiente político favorável a empreendimentos sociais, melhoria na educação do município de Jaguaripe, crescimento econômico do país.
AMEAÇAS: Envolvimento político partidário, falta de engajamento dos moradores, e insucesso de outras associações criadas anteriormente.
AÇÕES PROPOSTAS
O que Quando Quem Como
1. Promover a geração de trabalho e renda comunitários, aproveitando o Projeto Leite Amigo.






2. Ampliar a Associação





3. Promover a cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural Agosto de 2008








Agosto de 2008




Setembro a dezembro de 2008 Mira e Joca








Raimundo e José




Eloísa e Mira 1.Busca de novas parcerias e financiamentos;
2. Fortalecimento dos laços com o GamDes;
3. Ensino de práticas produtivas de valor cultural e econômico, nas áreas de educação, arte, cultura e meio ambiente em parceria com a Secretaria de Turismo de Jaguaribe;

1.Divulgar os benefícios que a AMMU promove;
2. Identificar novos associados;
3. Implementar novos benefícios para os associados;

1.Elaborar o Projeto de Ano Novo da “Barquinha”;
2.Contratar músicos;
3. Envolver a comunidade no projeto.

Uma última atividade foi implementada, a aplicação de uma pesquisa de campo. Em junho de 2008, foi aplicada uma pesquisa direta onde 46% das mães beneficiadas pelo Projeto Leite Amigo responderam. O objetivo da pesquisa foi revelar para a AMMU o grau de confiança e disposição de trabalho em equipe destas associadas.
As mães que responderam aos questionários têm em média 3 filhos; 100% não tem emprego e 64% está na faixa de idade entre 24 a 30 anos. Os resultados demonstraram que 91% destas associadas estão dispostas a trabalhar em grupo. Apesar de estarem plenamente satisfeitas com o andamento do Projeto Leite Amigo, 45% acredita que não houve aproximação entre as beneficiárias deste Projeto (V. Figura 3.0).





Figura 3.0 - Gráfico da AMMU - Mutá – Grau de aproximação entre beneficiárias do Projeto Leite Amigo
Muito embora apresente considerável grau de aproximação, o grupo constituído pelas beneficiárias do Projeto não oferece as condições necessárias para trabalhar em um negócio vinculado ao social, e obter os resultados programados. Devido às dificuldades deste tipo de negócio, sabe-se que é preciso mais do que metade das pessoas envolvidas em projetos sociais estarem estimuladas e unidas em um único propósito, além de deterem algum conhecimento técnico.
Quando questionadas se confiavam em outras associações do mesmo distrito, 90% respondeu que não. Este dado é preocupante, pois experiências anteriores de insucesso podem marcar negativamente expectativas e projetos futuros, dificultando a cooperação. A ausência de cooperação, em prol da competição, pode prejudicar o compartilhamento do conhecimento e sensibilização dos atores sobre a importância do trabalho cooperativo em rede.


CONCLUSÃO

O AMMU iniciou sua formação na final de 2007, a partir do desejo de criar novos caminhos para a comunidade local. Esse procedimento vem, lentamente, sendo absorvido por outros moradores, e tem como primeiro produto o Projeto Leite Amigo, beneficiando 24 crianças de baixa renda. No entanto, atualmente, o seu objetivo principal não é somente implementar e acompanhar projetos assistencialistas, busca alternativas para geração de renda e para melhoria na infra-estrutura de serviços públicos locais.
A partir da identificação do diagnóstico dos fatores inibidores e estimulantes, e das ações planejadas, e conhecendo o que pensam as pessoas envolvidas no projeto em andamento, a diretoria da AMMU, junto aos seus parceiros, precisa buscar caminhos para a ampliação da sua rede de contatos, principalmente com outras associações e instâncias governamentais, fomentando a cooperação entre grupos, gerando efeitos como clima mais positivo, e visão menos individualista dos atores. A entrada de novos parceiros é elemento que permite a ampliação do arranjo, no entanto é importante ressaltar que pode também gerar maior diversificação de idéias, opiniões e interesses, trazendo conflitos. Por este motivo que confiança e cooperação são tão necessárias.
Deve-se ressaltar a influência do GamDes – UCSal como agente externo, visto que o mesmo atuou no planejamento e elaboração de projetos, e como principal fomentador do Planejamento Estratégico, permitindo o aprofundamento teórico e prático para os seus participantes, oferecendo consultorias técnicas e de gestão, cursos de capacitação, incentivos aos eventos culturais, além de outras ações. Esta parceria foi, e está sendo processo permanente de aprendizagem mútua.
Para Dowbor (2004), a sociedade civil deve deixar de ser fornecedora de informação e passar a ser adequadamente informada para que possa participar ativamente das decisões sobre os seus destinos. Afirma que inúmeras experiências de gestão local, de inovação tecnológica, de dinamização de pequenas e médias empresas, de expansão da economia familiar, de promoção de emprego através de iniciativas da sociedade civil organizada e de poderes locais, continuam relativamente pouco conhecidas, e permanecem freqüentemente isoladas, quando poderiam ter um impacto muito maior na economia como um todo.
Esse princípio vem sendo observado pelo GamDes, que não só recebe as informações das comunidades estudadas para aprendizado interno, mas retribui e interage por meio da ajuda técnica promovida. Para a sociedade como um todo, o GamDes busca repassar os seus estudos, práticas e achados, na tentativa de colaborar, minimamente, para a construção de uma sociedade mais justa.


REFERÊNCIAS

BOURDIEU, P. Le capital social: notes provisoires. In:Actes de la recherche en sciences sociales n. 31. jan. 1980
CASAROTTO FILHO, N.; PIRES, L H. Redes de Pequenas Empresas e Desenvolvimento Local. Editora Atlas. SP, 1998.
COLEMAN, J.S. Foundations of Social Theory. Cambridge MA: Harvard University Press. 1990.
DOWBOR, Ladislau. Redes de Apoio ao Empreendedorismo e Tecnologias Sociais. PUC. São Paulo. 23 de Novembro de 2004. Disponível em: http://www.dowbor.org/ Acesso em 25 mai.2006.
DRUCKER, P. F. Inovação e Espírito Empreendedor. 5 ed. São Paulo: Pioneira, 1987.
FUKUYAMA, F. Confiança. Lisboa: Gradiva .1996.
JARA, C. J. As dimensões intangíveis do desenvolvimento sustentável. Brasília: IICA, 2001.
MARCHI, Cristina D. F. A Contribuição do Planejamento Estratégico para o Desenvolvimento Sócio-Ambiental da Central de Sistemas de Saneamento Auto-Sustentáveis. In: Anais do X Colóquio Internacional sobre Poder Local, Salvador, 2006. Anais: “Desenvolvimento e Gestão Social de Territórios”.
PUTNAM, R. The prosperous community: social capital and public life. The American Prospect, vol.4, issue 13. March, 21. 1993b.
RAMOS, Paulo B. A gestão de organização de unidades de informação. Revista Ciência da Informação. Vol. 25, número 1, 1996 (Artigos).
SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
SOUZA FILHO, J.R. Desenvolvimento Regional Endógeno, Capital Social e Cooperação Disponível em http://nutep.ea.ufrgs.br/pesquisas/Desenvolvreg.html Acesso em 09/07/2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

ARTIGOS PUBLICADOS

GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL: UMA ANÁLISE DA INSERÇÃO DA VARIÁVEL AMBIENTAL NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi[1]
Osmar da Silva dos Santos[2]
Abel de Jesus Santana[3]
Diogo Pinho Miguez[4]



RESUMO

Este artigo tem por propósito fornecer subsídios para o debate entre mercado e a necessidade de formação do gestor ambiental nas Escolas de Administração. Coloca em evidência conceitos relativos ao Sistema de Gestão Ambiental e à Série ISO, e discorre sobre uma pesquisa realizada junto aos alunos do curso noturno de Administração da Universidade Católica do Salvador, aplicada no mês de maio de 2007, que visou levantar o conhecimento e o interesse deste público pela Gestão Ambiental. Superar a distância que separa o perfil do administrador clássico ao do gestor que saiba lidar com novos aspectos das atividades, produtos e serviços desenvolvidos pelas empresas, e ansiados pelo mercado, começa pelo entendimento e difusão de conceitos administrativos ligados à sociedade e ao meio ambiente. O presente trabalho pretende também despertar a comunidade científica para a importância desta área junto à carreira dos profissionais ligados à Administração.

Palavras-Chave: Sistema de Gestão Ambiental, Administração de Empresas, Série ISO


INTRODUÇÃO

O Dow Jones Sustainability World Index (DJSI World) tornou-se uma referência importante para instituições administradoras de capital estrangeiro no momento de investir os recursos do mercado internacional nas empresas. Tais instituições baseiam-se na performance de sustentabilidade para tomar decisões de investimentos, estimados somente nos Estados Unidos em mais de um trilhão de dólares (CAMARGOS, 2006), e oferecem aos seus clientes as ações das empresas componentes do DJSI, comprometidas com o desenvolvimento social, ambiental e cultural.
O DJSI é um agregado de índices de sustentabilidade coorporativa, criado em 1999 pelo Dow Jones Indexes e o Sustainable Asset Management Group (SAM Group), baseado em Zurique. São eleitas as melhores organizações para investimento, auferindo um selo de qualidade. Atualmente, abrange 318 das 2.500 maiores companhias componentes do Dow Jones Index, o que equivale a um valor de mercado conjunto de mais de US$ 6,5 trilhões. As empresas eleitas pelo DJSI são avaliadas anualmente, e critérios menos clássicos, como: Padrões para Fornecedores, Códigos de Ética / Conduta, Política de Gestão Ambiental, Performance Ambiental, Desenvolvimento de Capital Social, e Balanço Social são também contemplados.
A visibilidade adquirida pelo DJSI deu origem a outros índices de sustentabilidade. “Em 2001 foi criado o FTSE4good Global, da Bolsa de Valores de Londres, e em 2003 o Socially Responsible Index, da Bolsa de Johanesburgo, na África do Sul” (CAMARGOS, 2006:21).
No Brasil, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), criado sob a coordenação do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV/SP, foi inspirado nessa iniciativa e, atualmente, reúne em torno de 40 empresas levando em conta parâmetros sócio-ambientais. Em artigo recente, na Revista Guia Exame - Boa Cidadania Corporativa, intitulado “Quanto vale a gestão responsável”, são dadas algumas explicações a respeito da busca pelas empresas brasileiras de participar dos índices de sustentabilidade das Bolsas de Valores,

Empresas que fizeram parte do ISE em 2006 afirmam que o ingresso no índice foi bom para os negócios... A resposta ao questionário dos índices de sustentabilidade pode ser uma oportunidade de identificar riscos e aprimorar o modelo de gestão da empresa. (CAMARGOS, 2006:22).

O levantamento das bandeiras de defesa sócio-ambientais, historicamente suspensas por Organizações Não Governamentais e segmentos da Sociedade Civil Organizada, como sindicatos, associações ou cooperativas, migrou para o mercado, passando a ser estudada, analisada e assimilada pelos executivos de grandes, médias e pequenas organizações.
A proposta pedagógica dos cursos ligados à Administração de Empresas nas Universidades não deve ignorar a atual importância que se atribui ao meio ambiente, tanto no mercado mundial, quanto no brasileiro. Os egressos destes cursos devem estar aptos à discussão de propostas que levem em conta conceitos contemporâneos, como a Série ISO, Estudos de Impactos Ambientais – EIA e seus respectivos relatórios – RIMA, Mercado de Crédito de Carbono, Tecnologias Mais Limpas, dentre outros.
Desta forma, os objetivos deste artigo são difundir alguns conceitos e práticas administrativas ligados ao meio ambiente, e contribuir para a discussão da inserção destes conceitos na formação do Administrador, por meio da análise dos resultados de uma pesquisa aplicada junto a graduandos deste curso.


A INTERAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E GESTÃO AMBIENTAL

Modelos de gestão que ofereçam os conceitos e as ferramentas voltadas às questões sócio-ambientais são utilizados de forma acentuada nas empresas modernas. O objetivo do desenvolvimento sustentável está relacionado ao desenvolvimento com preservação do meio ambiente e sua relação com as comunidades.
Para Chanlat (1995) modelo de gestão pode ser definido por um conjunto de práticas administrativas empregadas em uma dada instituição com vistas a se alcançar os objetivos que lhe foram fixados, estabelecendo as condições de trabalho, a organização e a natureza das relações hierárquicas, o tipo de estruturas organizacionais, os sistemas de avaliação e controle dos resultados, as políticas em matéria de gestão de pessoal e os objetivos, os valores e a filosofia de gestão que o inspiram.
A gestão ambiental é uma prática que faz parte da gestão geral de uma instituição. Ela pode ser utilizada para designar ações relativas à forma como está se dando o gerenciamento das políticas e programas, e atividades administrativas e operacionais relativas aos impactos ambientais de uma determinada organização[5], como: o monitoramento e o controle da salubridade humana dos grupos sociais que dela dependem, as condições de atendimento aos requerimentos ambientais ou limitações da sua exploração, ou ainda encontrar novas estratégias para minimizar estes impactos ambientais, como por exemplo as Tecnologias Mais Limpas (P+L) (MARCHI, 2005).
Portanto, a Gestão Ambiental pode ser definida como um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos, que permitem reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente. Uma ferramenta adequada para padronização das ações ligadas ao meio ambiente nas empresas é o Sistema de Gestão Ambiental[6], construído como conseqüência de um mercado cada vez mais exigente por posturas ambientalmente e socialmente sustentadas.
Fazem parte do Sistema de Gestão Ambiental elementos coordenados entre si, capazes de gerir o desempenho ambiental de uma organização em todas as suas etapas, planejamento, execução e avaliação, e a busca da melhoria constante deste processo (V. Figura 1.0).















Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 1.0 – Etapas do Sistema de Gestão Ambiental - SGA

Ambiente institucional fortalecido e legislação eficaz são essenciais para criar um cenário propício para a consecução da gestão do meio ambiente. A Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e o Licenciamento Ambiental são marcos regulatórios que fundamentam o Sistema de Gestão Ambiental. Um importante instrumento para a consecução dos objetivos propostos no SGA é a Norma International Organization for Standardization (ISO) 14.001, modelo gerencial que busca a melhoria contínua na organização. Dentre outras vantagens oferece ajuda prática para a implementação ou aprimoramento da gestão ambiental, e fornece auxílio no processo de iniciar, aprimorar ou sustentar o Sistema de Gestão Ambiental. Esta Norma também assegura a conformidade dos procedimentos ambientais das organizações com as exigências nacionais e internacionais.
Cajazeira e Barbieri (2005) explicam que a normalização internacional é um componente importante dos processos de liberação comercial, pois traz regras únicas de comércio, o que faz com que se tornem necessárias regras ambientais padronizadas. Um comitê especifico junto a ISO foi criado para estudar as questões decorrentes da diversidade crescente de normas ambientais, e seus impactos sobre o comercio ambiental, o TC 207.
Uma Norma ISO passa por avaliação a cada três anos, e esta avaliação não necessariamente implica em revisão, mas também em outras duas possibilidades: no seu abandono ou na sua manutenção.
Contudo, além das vantagens decorrentes de regras de jogo bem definidas e padronização de procedimentos, algumas críticas são feitas à ISO 14.001, que podem ser agrupadas em quatro grandes núcleos: 1) as normas não levam à melhoria do desempenho ambiental; 2) as normas são elitistas e os custos de certificação abusivos; 3) as normas ISO interessam apenas a países ricos; e, 4) as normas constituem barreiras não-tarifárias (CAJAZEIRA e BARBIERI, 2005).
A legislação ambiental está sendo implementada de forma crescente no mercado global. Ostentar um SGA com base nos requisitos da ISO 14.001, certificado ou não, é um diferencial competitivo para as empresas e o Administrador tem que está atento a isso.


A CONSCILIAÇÂO DE NEGÓCIOS COM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O mercado espera que além de serem socialmente responsáveis, as empresas preservem o meio ambiente. Uma gestão eficaz eleva a marca da empresa perante a sociedade.
Com o objetivo de produzir mais, reduzindo o consumo de recursos naturais e a geração de resíduos, a AMBEV adota a ecoeficiência em suas fábricas, e gera resultado econômico com isso. De todos os indicadores ambientais da AMBEV, “o reaproveitamento dos resíduos foi o que apresentou o resultado mais expressivo no ultimo ano, gerando receita de 51 milhões de reais“ (DIAS, 2006:76). Corrêa (2006) destaca que a atenção com o meio ambiente também leva as empresas a se preocuparem com a destinação de seus produtos, depois de consumidos. O descarte inadequado de alguns produtos podem trazer sérios riscos ao ambiente, alguns componentes podem ser potenciais poluidores do solo, da água e do ar.
Iervese (2007) ressalta o estudo elaborado pelos Institutos Ethos e Acatu, que revela que 76% dos consumidores brasileiros tem consciência de que pode interferir na gestão das empresas, através do consumo responsável, 72% tem interesse em saber mais sobre as ações e iniciativas ligadas à responsabilidade sócio-ambiental das organizações, e 15% deixou de comprar ou falou mal de determinada empresa, como forma de puni-la por achar que esta não respeita questões sócio-ambientais.
Este tipo de relacionamento entre mercado e meio ambiente exige capacitação técnica. Um novo campo de trabalho está surgindo: o gestor ambiental.
Segundo Jacques Demajorov, coordenador do bacharelado em Administração do SENAC de São Paulo, a gestão ambiental é área estratégica, e que seria um erro imaginar que apenas as grandes empresas devem se preocupar em ter um gestor ambiental na sua equipe. As micro, pequenas e médias empresas “também não podem prescindir desses profissionais, já que, estão entre os grandes causadores de impactos ambientais.” (ADMINISTRADOR PROFISSIONAL, 2007:6). As empresas de pequeno e médio porte não possuem políticas ambientais apropriadas, e muitas vezes descartam seus resíduos de forma inadequada, ficando sujeitas a multas previstas pela legislação ambiental, as onerando tanto financeira como mercadologicamente. A falta de pessoal preparado tecnicamente dificulta o desempenho ambiental de uma organização.
Acredita-se que seja necessário e urgente a introdução na grade curricular do curso de Administração da variável ambiental. Baseado nessa premissa, o Grupo de Pesquisa em Gestão Ambiental e Desenvolvimento de Empreendimentos Sociais - GamDes aplicou uma pesquisa junto a 20% dos alunos do curso noturno de Administração da Universidade Católica do Salvador - UCSal, buscando conhecer o nível de conhecimento e interesse do corpo discente quanto ao tema Gestão de Meio Ambiente.

METODOLOGIA DA PESQUISA

O estudo teve o objetivo de analisar o grau de conhecimento, interesse, e valorização dos temas ligados ao meio ambiente e à Gestão Ambiental junto a estudantes de Administração que estudam no turno da noite da Escola de Administração da UCSal.
O modelo adotado foi um estudo de caso, com pesquisa exploratória, e bibliográfica, envolvendo uma amostra de 112 estudantes (20% dos alunos do curso noturno) que freqüentam diferentes semestres (V. Figura 2.0).















Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores.

Figura 2.0 – Gráfico dos Estudantes de Administração da UCSal – Semestres Cursados pela Amostra

O instrumento utilizado foi um questionário com nove questões, subdivididas em duas partes; a primeira composta por três questões (objetivas) relacionadas ao perfil pessoal dos entrevistados; e na segunda foram trabalhadas cinco questões (objetivas) e apenas uma (subjetiva), envolvendo sugestões relativas ao conhecimento e valoração dos temas ligados ao Meio Ambiente. O levantamento foi realizado no período entre 21 de maio a 25 de maio de 2007. Os alunos entrevistados foram escolhidos de forma randômica[7] nos corredores da Escola de Administração no Campus de Pituaçú por integrantes do Grupo de Pesquisa GamDes.
Foram considerados os seguintes indicadores: quantidade de estudantes que trabalham, conhecimento sobre o ISO 14.001, identificação com temas transversais à Administração, e valoração de temas ligados ao Meio Ambiente para a carreira do Administrador. Para mensurar os resultados, foi utilizado o Programa SPSS.


RESULTADOS DA PESQUISA

Dos 121 entrevistados que responderam ao questionário da pesquisa, 34,7% pertencia ao sexo feminino, e 64,5% ao masculino; 30,6% se encontrava na faixa etária entre 18 a 22 anos, 38,8% entre 23 a 26 anos, e 30,6% com mais de 27 anos. A maioria dos entrevistados (43,8%) estava no meio do curso, entre o 4º e 5º semestres.
Quanto questionados se o estudo aprofundado de temas ligados ao meio ambiente acrescentaria valor à sua atividade como Administrador, 95,9% respondeu que sim e 4,1% que não sabia (V. Tabela 1.0). Este resultado sinaliza a importância que a amostra pesquisada dá a conteúdos que ofereçam conceitos e ferramentas voltados para as questões ambientais.

Tabela 1.0 – Estudantes de Administração da UCSal – Grau de Valor dado à Temas Ambientais

Tipos
Freqüência
Percentual
Valoriza
116
95,9
Não valoriza
0
0
Não sabe
5
4,1
Total
112
100,0
Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores.

Embora a relativa preocupação demonstrada pelas empresas, a sanção de novas leis ambientais, os acordos internacionais envolvendo a preservação ambiental, o que se observa é que esses problemas ainda são enormes, e longe de serem solucionados. A informação oferecida pela mídia sobre as organizações que procedem de maneira correta em relação ao meio ambiente desperta interesse sobre a opinião pública, criando valor para as suas marcas. O debate constante sobre as formas de minimização das conseqüências desastrosas junto à natureza pode estar gerando empenho em colaborar para reverter essa situação, principalmente junto aos mais jovens. Estas considerações podem justificar as respostas dadas pelos estudantes.
93,7% considera que um Administrador que detêm maiores conhecimentos da área ambiental possui diferencial competitivo (V. Tabela 2.0). Mesmo assim, quando questionados sobre o interesse em participar de estudos adicionais relacionados ao meio ambiente, somente 38,8% respondeu que sim. Alunos do curso noturno da UCSal geralmente trabalham (83,5% respondeu que trabalha), não tendo tempo suficiente para outras atividades, apesar de relevantes, que contribuam para aprofundar seus conhecimentos fora da grade curricular vigente.

Tabela 2.0 – Estudantes de Administração da UCSal – Grau de Diferenciação para a Carreira Quanto ao Conhecimento de Temas Ambientais

Tipos
Freqüência
Percentual
Diferencia o Administrador
105
93,7
Não diferencia o Administrador
6
5,4
Não sabe se diferencia
1
0,9
Total
112
100,0
Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores.

Outra questão levantada foi o grau de entendimento quanto ao conceito ISO 14.001. 75% respondeu que conhece pouco sobre este conceito (V. Tabela 3.0). Conforme relatado anteriormente, a ISO 14.001 é um importante instrumento gerencial para o Administrador junto às empresas, e este conhecimento pode ajudá-lo a alcançar postos de trabalho de qualidade, que exijam competências e habilidades na área ambiental. A lacuna provocada pelo desconhecimento de atividade tão importante pelo Administrador pode funcionar como uma barreira à obtenção de postos de trabalho qualificados e bem remunerados.




Tabela 3.0 – Estudantes de Administração da UCSal – Entendimento do Conceito ISO 14.001

Tipos
Freqüência
Percentual
Conhece pouco sobre o conceito
84
75,0
Conhece o suficiente sobre o conceito
22
19,6
Conhece muito sobre o conceito
6
5,4
Total
112
100,0
Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores.

Apesar de ser majoritariamente considerada importante pela amostra, o interesse sobre o componente ambiental no ensino da Administração varia a depender do semestre cursado (V. Figura 3.0).
Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores

Figura 3.0 – Gráfico dos Estudantes de Administração da UCSal - Interesse X Semestre Cursado pela Amostra

Quando cruzados os dados “Interesse sobre o Tema” e “Semestre Cursado” percebe-se:

a) Nas respostas dos 1º, 2º e 3º semestres, a demonstração de interesse dos alunos é menor do que a disponibilidade de responder a questão. Percebe-se que as respostas “sim” aparecem com igual ou menor incidência que as “não respostas” dadas. Este resultado é compreensível, já que no começo do curso de graduação os alunos ainda estão se adaptando ao programa, e buscando conhecer melhor os conteúdos que estão sendo oferecidos;
b) Um ponto de destaque é a posição de interesse no tema demonstrado pelos alunos do 4º semestre, a prevalência é maior entre os que se interessam por questões ambientais, em relação às outras opções de respostas. Ou seja, aqueles que responderam afirmativamente superaram os que disseram não ter interesse, ou que se recusaram a responder a questão. A prevalência permite compreender o quanto é oportuno oferecer novas disciplinas na área ambiental, ou adicionar o componente ambiental em disciplinas pré-existentes, no meio do curso. Na amostra, nenhum aluno deste semestre demonstrou dúvida em relação ao seu interesse;
c) Nos 5º, 6º e 7º semestres, apesar dos alunos responderem que têm interesse sobre a área do meio-ambiente, um número significativo abdicou de responder a questão. Este resultado pode refletir uma maior adaptação ao plano tradicional de estudos acadêmicos, já que o término do curso está próximo, ou ainda à falta de tempo, a maioria trabalha.


CONCLUSÃO

A preservação do meio ambiente tornou-se uma preocupação crescente, sobretudo desde a segunda metade do século XX. As pressões ambientais estão sendo geradas a partir da constatação “da degradação dos recursos naturais e dos impactos provocados na saúde da população. Grandes acidentes ambientais contribuíram para o crescimento da demanda ambientalista e para a organização da sociedade nesta direção” (KIPERSTOK et AL, 2002:36). Um aspecto tão importante da sociedade moderna não deveria continuar a ser relevado ao segundo plano nos cursos de graduação em Administração.
Um estudo sobre a relação entre comércio internacional e meio ambiente de países latinos americanos, dentre eles o Brasil, coloca que as inserções desses países no mercado global têm se dado cada vez mais mediante o retorno do padrão primário-exportador (CAJAZEIRA e BARBIERI, 2005). Neste contexto a adesão constante das empresas brasileiras ao padrão ISO 14001 passa a requisitar a formação de profissionais aptos a responder tanto ao mercado, quanto às necessidades sociais.
O debate sobre a inserção do tema ambiental no currículo do programa de graduação em Administração mostra-se urgente. A pesquisa relativa a este trabalho buscou levantar o interesse do corpo discente em conhecer temas ambientais, e a amostra respondeu afirmativamente à este conhecimento. Superar a distância que separa o perfil do administrador clássico ao do gestor que saiba lidar com novos aspectos das atividades, produtos e serviços desenvolvidos pelas empresas, e ansiados pelo mercado, começa pelo entendimento, aprofundamento e difusão de conceitos administrativos ligados à sociedade e ao meio ambiente, e o envolvimento dos professores é imprescindível. Reconhece-se não ser tarefa fácil, qualificação de professores e mudança de práticas serão exigidas, merece estudo aprofundado e esforço de todos envolvidos.
A pesquisa junto aos discentes da Escola de Administração da UCSal apontou para a importância do tema ambiental e a sua inserção dentro do conteúdo curricular tradicional. O papel institucional da Universidade é inegável, e o seu potencial para influir significativamente na transformação da sociedade requer a amplitude do debate sobre questões e conteúdos relevantes para o desenvolvimento sustentável.


REFERÊNCIAS

ADMINISTRADOR PROFISSIONAL. Ele concilia negócios com desenvolvimento sustentável. Órgão Informativo dos Administradores Profissionais de São Paulo. São Paulo. ANO XXX. Nº. 250. Abril de 2007. Periodicidade Mensal.
CAJAZEIRA, J. ; BARBIERI, J. C. . A Revisão da ISO 14.001: As Demandas das Partes Interessadas e as Mudanças Introduzidas na Nova Versão. In: SIMPOI 2005, 2005, SÃO PAULO. Anais do VIII Simpósio de Administração da Produção, Logística e Operações Internacionais - SIMPOI 2005 - FGV-EAESP, 2005.
CAMARGOS, Daniella. Quanto vale a gestão responsável. Guia Exame 2006- Boa Cidadania Corporativa. Abril: São Paulo. Negócios - indicadores. Dez. 2006. p 20-22.
CHANLAT, Jean-François, 1995. Modos de gestão, saúde e segurança no trabalho. In: "Recursos" Humanos e Subjetividade (E. Davel e J. Vasconcelos, orgs.), pp. 118-128. Petrópolis: Vozes.
CORREA, Guy. Reciclar para renovar. Guia Exame 2006- Boa Cidadania Corporativa. Abril: São Paulo. Destaque – meio ambiente. Dez. 2006. p. 77.
DIAS, Beatriz Marques. Produzir mais com menos. Guia Exame 2006- Boa Cidadania Corporativa. Abril: São Paulo. Destaque – meio ambiente. Dez. 2006. p. 76.
IERVESE, Carine A. Empresas ganham mais se reduzirem a poluição. A Tarde. Empregos e Negócios. Salvador. 20 de maio de 2007. p. 4.
KIPERSTOK, Asher et AL. Prevenção da Poluição. Brasília: SENAI/DN. 2002. 290 p.
MARCHI, Cristina M. D. F. Histórico Ambiental de Santo Amaro. In: Workshop Reciclando Idéias em Santo Amaro, 2005, Santo Amaro - Bahia. Anais do Workshop Reciclando Idéias em Santo Amaro , 2005.
[1] Professora, líder do Grupo de Pesquisa em Gestão Ambiental e Desenvolvimento de Empreendimentos Sociais da Escola de Administração de Empresas da Universidade Católica do Salvador, pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa Tecnologia, Qualidade e Competitividade da Escola de Administração da UFBa, técnica da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia. Doutoranda em Geologia Ambiental e Recursos Hídricos no Instituto de Geociências da UFBa. E-mail: cmmarchi@gmail.com
[2] Aluno da Escola de Administração de Empresas da UCSal e participante do Grupo de Pesquisa GamDes E-mail: osmarsafs@yahoo.com.br
[3] Aluno da Escola de Administração de Empresas da UCSal e participante do Grupo de Pesquisa GamDes. E-mail: abelsan17@yahoo.com.br
[4]Aluno da Escola de Administração de Empresas da UCSal e participante do Grupo de Pesquisa GamDes E-mail: diogomiguez@hotmail.com
[5] Impacto ambiental neste trabalho deverá ser entendido como qualquer alteração no ambiente, seja benéfica ou não, resultante total ou parcialmente de atividades, processos, produtos ou serviços produzidos.
[6] Parte do Sistema de Gestão Total, que inclui o planejamento, avaliação, direção e controle das práticas, procedimentos, processos e recursos relativos ao desenvolvimento, implementação, e procedimentos das políticas ambientais.
[7] Randômica – ao acaso

GESTÃO SOCIAL E AMBIENTAL - BAHIA BRASIL

Grupo de pesquisa formado por professores da Escola de Administração de Empresas da Universidade Católica do Salvador, Bahia, em outubro de 2004, visando estimular a pesquisa e o aprofundamento do conhecimento nas áreas de gestão do meio ambiente e do empreendedorismo social.

http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=1549602RNX4EPZ